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Writer's pictureLetícia Kawano-Dourado

Monitorização contínua da glicemia

Sensor de glicemia que se instala no braço da Abbott. Conto aqui o que achei

Atualizado em Fevereiro de 2024 (Versão original de Agosto 2023)


Como parte do meu foco em melhorar meu metabolismo da glicose (eu, em pré-diabetes), decidi instalar um sensor de glicemia por 14 dias em Agosto de 2023. Agora em Dezembro de 2023 fiz nova reinstalação e estou há quase 2 meses de observações acumuladas no sensor. Instalei o sensor FreeStyle Libre da Abbott. Comprei numa farmácia sem necessidade de pedido médico e instalei em casa.


Por que toda essa minha preocupação com um "simples pré-diabetes"? Por que o pré-diabetes é uma bomba relógio programada para estourar no seu corpo daqui uns 20 anos, para mais detalhes veja meu outro post aqui.


Aqui o sensor FreeStyle Libre da Abbott instalado no meu braço

Mas vamos voltar ao assunto desse post, o sensor contínuo de glicemia:

Saiu (Maio 2023) um compilado sobre o sensor contínuo de glicose no Medscape, está muito bom, veja aqui (para acessar o conteudo é preciso se cadastrar, mas vale a pena!)


O FDA liberou o sensor da marca Abbott para uso no mercado Norte-Americano, veja aqui. Há outros sensores aprovados pelo FDA, como por exemplo o Dexcom. Na escolha do sensor prefira aqueles que foram aprovados pelo FDA e/ou agencia de medicamento europeia (EMA).


Outros pontos centrais desse compilado do Medscape:

  • Para crianças e adolescentes com diabetes do tipo 1, o uso do sensor junto com a bomba de insulina significativamente melhorou desfechos clínicos;

  • Para gestantes com diabetes gestacional idem;

    • Note que na diabetes gestacional, o risco de morte para o bebe intra-utero vem da hipoglicema, entao o monitor contínuo é uma benção para detectar isso!

  • Uso do sensor reduz em 40% risco de hipoglicemia em diabeticos tipo 1;

  • Uso do sensor reduz hemoglobina glicada e melhora o controle do diabetes em diabetes tipo 2;

  • Sensor aplicado no braço direito gera valores significativamente superiores do que ao braço esquerdo (tendo como padrão ouro a glicemia do sangue), curioso isso, nao? Veja o estudo aqui .

    • eu apliquei o meu sensor no braço direito e de fato meus valores de glicemia do sensor foram em geral 15% maiores que a glicemia do sangue (colhi sangue 2x para verificar isso).

      • a implicação prática disso, é que para diabeticos com risco de hipoglicemia, é preciso verificar a precisão do SEU sensor em relacao à glicemia (ponta de dedo ou sangue) antes de determinar açoes como insulina, ou comer algo (hipoglicemia). Imagine o seguinte, no meu caso (sensor acusando 15% a mais do que glicemia no sangue), um valor de glicemia no sensor de 70mg/dl corresponde a 59.5mg/dl no sangue: perigoso entende?

      • Outra máxima importante:

        • para os que tem risco de hipoglicemia, se voce se sentir mal e o sensor der uma glicemia normal, vale a pena conferir com a glicemia do dedo antes de tomar qualquer ação.

        • qualquer valor extremo fora do padrão no sensor deve ser confirmado com glicemia na ponta do dedo (ou de sangue (no laboratorio) antes de se atuar nele (por exemplo administrar insulina, ou se estressar por que é um numero muito alto, por exemplo 200 apos a refeicao)


Como funciona ?

Trata-se de uma pequenínissima agulhinha maleável (mais parece um fio de cabelo) acoplada a um sensor que fica instalada no seu braço por 14 dias e a cada 14 dias precisa trocar. Essa agulhinha consegue medir a glicose presente no subcutâneo (no intersticio). Você escaneia o sensor com seu celular ou um glucosímetro da Abbott, e lá sai o resultado da glicemia instantaneamente. Nesse slide abaixo, a glicemia do sensor (intersticial) é comparada com a glicemia capilar (ponta de dedo):


Print de tela do material de apoio oferencido pela Abbott: https://www.diabetesnoalvo.com.br/entendendo-melhor-freestyle-libre/

Pelo fato do sensor medir a glicemia do intersticio é esperado haver divergência entre os valores do sangue e sensor na ordem de 10-15%. Essa divergência pode ser maior em momentos em que a glicemia está variando rápido (pico ou vale de glicemia) simples por que o equilibrio da glicose do sangue para o intersticio leva um tempinho.

Aqui para mim, o 3o sensor que eu instalei deu valores mais divergentes que os outros sensores anteriores e o sensor sucessor. Isso pode acontecer. Entao nao encane com valores no sensor sem ter confirmado com glicosimetro. Por exemplo, nesse 3o sensor, eu acordava com glicemia de120. No sangue: 88.


Se dá divergência de resultado com o glicosimetro, entao para que serve o sensor?

Eu acho o sensor super educativo por que ele te permite enxergar a DINÂMICA da CURVA de GLICEMIA nas 24h. Entao voce vê o que acontece quando come, e dependendo do que come, o tempo que leva para clarear o alimento, quando está com privacao de sono o imapcto na glicemia, quando se exercita, quando fica com raiva (picos!): independente dos valores absolutos de glicemia estarem exatos, ver a dinamica é muito educativo e permite melhores escolhas comportamentais.



à esquerda, medida de glicemia pelo sensor. À direita, medida de glicemia no sangue. Note diferença de ~15% para mais no valor do sensor

Os resultados são bem interessantes, tanto na forma de gráficos diários, quanto médias e estimativas da Hemoglobina glicada:


Compilado de prints de tela do aplicativo da Abbott que entrega os resultados de glicemias e suas análises. Esses resultados podem ser compartilhados com o médico

Sobre a aplicação do sensor. Dói?

Na hora de instalar em mim doeu um pouco sim na 1a vez e nada nas outras vezes. De 0 a 10, doeu 2 (bem pouco). Depois curiosamente ficou dolorido mais umas 12h, daí depois ficou bem, indolor.

Eu tinha ficado encanada com a tal da agulhinha enfiada no meu braço: se aquilo ia ficar doendo ao toque etc, mas não dói não. Quando removi o sensor, após os 14 dias (precisa trocar de 14 em 14 dias e custa ~R$ 250 cada 14 dias), eu vi que a agulha é beeem maleável e pequeninissima, motivo pelo qual sua presença não incomoda.

A bula é relativamente clara, mas achei mais confiável ver um vídeo para ter certeza de que estava fazendo certo. Aqui o video.

O sensor fica beeem grudado, sem risco de cair. Brinquei na piscina, fiz musculação, tomei banho, tudo normal e o sensor lá!


Dica: olhe bem a figura da bula e instale o sensor na parte posterior do braço. Se voce instala de lado, o sensor pode incomodar na hora de dormir de lado.


Incomoda ficar com o sensor no braço?

Olha no geral não incomoda. O único momento que me incomodou um pouco foi à noite, pois eu durmo de lado, alternando os lados, e eu ficava preocupada de dormir por cima do sensor, além de sentir um doloridozinho quando deitava por cima. Se eu fosse aplicar uma outra vez, ficaria atenta ao local de aplicação para não ficar exatamente para baixo quando deitar de lado.


O que aprendi com o sensor de glicemia por esses 2 meses?

  • Achei a visualização da variação (da dinâmica) de glicemia com atividades do dia e alimentos a dia super EDUCATIVO! Nada como ver a coisa acontecer, bem diferente do aprendizado teórico.

    • Vi minha glicemia dar um salto após uma crise de raiva (!!)

    • Vi minha glicemia sistematicamente baixar e estabilizar com exercício fisico aerobico de moderada intensidade por 45 min

    • Vi minha glicemia abaixar com a meditacao em bondade amorosa

    • Vi minha glicemia dar um salto com alimentos de alto índice glicêmico

    • Vi minha glicemia subir pouco após uma refeição cheia de fibra, e equilibrada

    • Vi que um quadradinho (20g) de chocolate 90% à noite não piora minha glicemia à noite

    • Vi que quando durmo mal, no outro dia minha glicemia está globalmente mais alta

    • Flagrei episodios de hipoglicemia reativa na madrugada, 3-4h apos um jantar carregado em carboidratos no periodo pre-menstrual (quando piora a resistencia a insulina), e eu achando que o sintoma era ansiedade (despertava com coracao acelerado, mao suada, mente agitadissima). Outros fatores que propiciam hipoglicemia reativa: alcool, cirurgia bariatrica


E a troca do sensor?

Eu usei apenas 1 sensor, mas para aqueles que farão uso contínuo, é preciso trocar a cada 14 dias. Para retirá-lo, voce vai removendo a colinha do adesivo com óleo mineral e algodão em volta do sensor, depois só retirar o sensor, bem simples e indolor.

Atenção: o novo sensor deve ser aplicado em outro local, não no mesmo.


Custo:

O sensor não é barato, ~R$ 250 a cada 14 dias, se voce for usar para fins educativos, sugiro o uso por 1 a 3 meses: para poder enxergar nuances. Para aqueles como eu, com pré-diabetes ou diabetes mais leve, que querem ter uma sessão educativa ao vivo, o custo cabe melhor, ja que a pessoa vai usar por um período curto de aprendizado e implementação de modificações.


O suporte técnico da Abbott é bom?

Achei bom, entrei em contato uma vez e fui provida das informações que eu precisava


Espero que esse post ajude a esclarecer um pouco sobre essa nova tecnologia.


Conflitos de interesse: nenhum


Vamos em frente! Xô diabetes


Eu sou Leticia Kawano Dourado

Médica pneumologista e pesquisadora clínica


3 Comments


Lorena Antunes
Lorena Antunes
Aug 21, 2023

O suporte da Abbot é realmente bom. Para eventos de hipoglicemia, notei uma.discrepância maior em relaçāo à glicemia capilar bem importantes, 48 no Libre e 69 no glicosímetro. Notei porem que alguns eventos seriam corrigidos pelo corpo e nao apareceriam na leitura, se nāo tivéssemos escaneado, pois para ficarem registrados, a hipoglicemia teria que ter se mantido por mais algum tempo. Vários aprendizados com o Libre. Infelizmente no Brasil so temos o Libre 1 e sei que

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Letícia Kawano-Dourado
Letícia Kawano-Dourado
Sep 02, 2023
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Lorena, viu o estudo mostrando diferença de valores entre o sensor aplicado no braço direito vs esquerdo? Eu apliquei o sensor no braço direito...explica os valores acima da glicemia do sangue! https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33955249/

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